e há quem diga por aí que a pós-graduação não tem importância e que os professores que nela atuam não fazem nada... imagina! hoje, domingo, dia ensolarado, temperatura agradável e eu, no meu gabinete de estudos, lendo e revisando as dissertações dos meus orientandos. quem diria, neste belo dia outonal e em pleno fim-de-semana, estou trabalhando sem que este tempo sequer apareça como hora trabalhada... não, não estou reclamando de nada! (não sou hipócrita, faço o que gosto). mas é que às vezes os próprios colegas não conhecem (nem reconhecem) as agruras por que passam os professores ligados à pesquisa e à todas as demais atividades do ppgletras. é que muita gente esquece que atuar na pós-graduação não significa "abandonar" a graduação... exatamente o contrário, o vínculo se torna mais estreito e muito mais forte. ainda nesta semana, um querido amigo e respeitado colega me confidenciou que seu ritmo de trabalho está alucinado, porque tem de avaliar 8 teses em pouqíssimo tempo (coisa de semana e pouco), sem descuidar, é claro, de suas aulas, de suas orientações, de suas pesquisas, de seus pensamentos. e pra quem diz ou pensa que o salário é maior pra quem atua nas ppgs, bem, revelo que meu ganho continua o mesmo, sem acréscimos algum... ser pesquisador e estar vinculado a um ppg significa colocar-se à prova, é gerar conhecimentos, é comprometer-se com a saúde intelectual dos alunos, tanto os da graduação quanto os da pós-graduação... mas isso requer amor ao seu ofício e boas doses de desprendimento, sem falar, é claro, na elegância de saber pensar.
ainda em organização, mas este é um blog para atividades acadêmicas, como ensaios, resultados de pesquisas, seminários, congressos, palestras e coisas afins, alunos, defesas, discussões de temas relacionados à literatura e o que mais surgir
domingo, 22 de abril de 2012
quinta-feira, 19 de abril de 2012
preparando aulas e revisando orientandos
no momento, estou preparando aulas sobre metapoesia com alguns poemas de ferreira gullar;
também estou revisando uma dissertação de uma orientanda;
ah, e como ia esquecendo? penso constantemente em fernando pessoa... (este pós-doc ainda me mata...)
como disse uma querida amiga por email: "com os apelos acadêmicos e domésticos se somando" fica muito difícil encontrarmos tempo para "atualizarmos nossa agenda litero-pecuária"; é que Marilene (da ufpr) também é como eu, isto é, tem um pé na vida rural...
também estou revisando uma dissertação de uma orientanda;
ah, e como ia esquecendo? penso constantemente em fernando pessoa... (este pós-doc ainda me mata...)
como disse uma querida amiga por email: "com os apelos acadêmicos e domésticos se somando" fica muito difícil encontrarmos tempo para "atualizarmos nossa agenda litero-pecuária"; é que Marilene (da ufpr) também é como eu, isto é, tem um pé na vida rural...
fernando pessoa aquém do eu, além do outro
todo mundo sabe que a fortuna crítica de fernando pessoa é, praticamente, inesgotável, basta dar uma chegadinha no site da "casa fernando pessoa" e ver a quantidade de registros. isso, de certa maneira, se torna um problema para quem, como eu, deseja trabalhar com o poeta português. então, no meio de tantas referências é bom contar com a intuição e com as indicações precisas. pois foi assim que busquei a nova edição do livro "fernando pessoa - aquém do eu, além do outro", da ensaísta leyla perrone-moisés (bem, é de 2001, mas se considerarmos que a primeira é de 1982, esta, a 3ª, pode ser considerada nova...). independente da análise lacaniana que me parece muito insistente, é um gosto ler quem conhece mesmo de teoria de poesia, e não tem medo de fazer afirmações que possam causar incômodos a certos redutos da "academia" contemporânea. eu, particularmente, me identifico com muitas de suas críticas em relação a essa coisa chata que teima em ver os heterônimos como "entidades independentes", ou "encarnações de outros espíritos", etc, como se todos não fossem parte de um mesmo processo de ficcionalização. de fato, há estudos que são clássicos; este é um deles.
sábado, 14 de abril de 2012
A poesia brasileira e os tecidos do mito de narciso
[este ensaio foi apresentado, e posteriormente publicado, nos respectivos anais do Seminário Internacional da História da Literatura - PUCRS, Porto Alegre, 2007]
Muito
tem se falado e escrito sobre a necessidade de novos critérios para a História
das Literaturas. É consenso que a visão totalizadora e unificada, ainda
tradicionalmente apresentada nos cursos de graduação, não dá conta dos inúmeros
matizes que a literatura, em especial a poesia, contemporânea apresenta. As
tentativas de traçar panoramas abrangentes sobre a produção poética brasileira
após Semana de Arte Moderna, em 1922, tem frustrado porque inevitavelmente
priorizam certos temas e poetas mais afeitos aos conceitos de “representativos”
dos seus autores, com os quais, aliás, não preciso concordar.
Um dos sintomas mais interessantes da
falência da historiografia literária como um compêndio completo de “estilos de
época” se deu com os poetas. Como etiquetar com a mesma legenda nomes como
Carlos Drummond, Cassiano Ricardo, Raul Bopp, Vinícius de Moraes, Murilo
Mendes, Cecília Meireles, João Cabral, Jorge de Lima, entre outros. Agrupá-los
como modernistas é subestimar suas poesias e a própria idéia de modernismo. Via
de regra, com suas inúmeras exceções, é sabido que um dos vetores modernistas
foi a necessidade de se reimprimir identidades brasileiras que dessem vazão às
múltiplas faces de nossas gentes. A identidade nacional tornou-se plural. Essa
tem sido uma das linhas temáticas em torno da qual se agrupam nomes, dando
relevância para uns e status um pouco inferior para outros. Por outro lado, os
movimentos reivindicatórios acerca das diversidades abriram a possibilidade
para que a História da Literatura também deixasse de ser um conjunto homogêneo
de idéias e de princípios estéticos esquematicamente colocados no decurso do
tempo.
O século XX desvendou a crise identitária e a
aprofundou nas questões nacionalistas e nas interrogações individualizadas. Em
decorrência das afirmações eufóricas dos românticos seguiu-se, pela via
modernista, uma certa instabilidade emocional acerca das certezas identitárias.
Não foi à toa que Mário de Andrade dizia ser trezentos, aliás, trezentos e
cinqüenta.
Os próprios poetas se entregaram à tarefa de
organizarem suas poesias.
terça-feira, 10 de abril de 2012
leitura do dia
estou relendo Apresentação da poesia brasileira, do Manuel Bandeira. eu tenho uma edição antiga, muito lindinha porém suas folhas já estão amareladas demais, de forma que me dei de presente esta edição que tenho em mãos: a da Cosac Naify, de 2009. e convenhamos que manuel era um "sabido"! a lispector, em uma de suas cartas recentemente publicadas, dizia que o poeta era muito tristinho (palavras dela), até pode ser, mas que era sabido, lá isso era! e conhecia de poesia e quejandos...
poemas diversos para as aulas - mestrado 2012
[os poemas abaixo são alguns usados nas aulas de "tópicos avançados de literatura brasileira", cujo tema este ano é a metapoesia na poesia brasileira - manuel bandeira, drummond, cecília meireles e adélia prado]
Igual aos deuses esse homem
me parece: diante de ti
[de Safo]
Mais verde que uma erva
Igual aos deuses esse homem
me parece: diante de ti
sentado, e tão próximo, ouve
a doçura da
tua voz,
e o teu riso claro e solto. Pobre
de mim: o
coração me bate
de assustado. Num ápice te vejo
e a voz se
me vai;
a língua paralisa; um arrepio
de fogo,
fugaz e fino,
corre-me a carne; enevoados
os olhos;
tontos os ouvidos.
O suor me toma, um tremor
me prende.
Mais verde sou
do que uma erva – e de mim
não me
parece a morte longe (...)
segunda-feira, 9 de abril de 2012
V seminário nacional de história da literatura
já estão abertas as inscrições para o V seminário nacional de história da literatura; de hoje até 30 de abril é só acessar a página www.senalit.furg.br e conhecer a programação e os convidados, as normas para apresentação de trabalhos, fichas de inscrições, e tudo o mais. o seminário vai acontecer durante os dias 15, 16 e 17 de maio, na universidade federal do rio grande. trata-se de evento bianual promovido pelo programa de pós-graduação em letras - história da literatura, da furg. vale conferir!
Memória, imaginário e movimento
[este ensaio está publicado em: BERND, Zilá. (org). Dicionário das mobilidades culturais: percursos americanos. Porto Alegre: Literalis, 2010]
Resumo : A memória, tal como é pensada pela objetividade
científica da Sociologia e da Psicanálise,
não consegue abarcar as muitas possibilidades significativas para construções de imagens brotadas da memória
individual, que os textos literários, em especial a lírica sobre a infância e
as autobiografias, apresentam. Para que se torne possível a articulação entre
memória e movimento, este ensaio pretende ser construído buscando outra razão,
a razão do imaginário, tal como a propõe Gilberto Durand. Tendo, portanto, a
Filosofia do Imaginário como base argumentativa, as propostas de leituras serão
encaminhadas a partir dos conceitos de devaneio, de sonho, de memória, de
infância de Gaston Bachelard, desenvolvidos em seus estudos relativos aos
elementos cosmogônicos na formação de uma “imagem material”, com especial
enfoque para A poética do devaneio,
tomando como exemplo de tais processos alguns poemas retirados de Poesia e sua autobiografia Segredos de infância, de Augusto Meyer.
Para discorrer sobre a memória, cuja essência é a imagem que se movimenta, preciso
usá-la no momento em que a penso. Como um círculo ininterrupto de
relações paradoxais entre realidade e ficção, através do qual a memória salta e
exerce seu poder articulador de inteligibilidade, eu me encontro em uma espécie
de gozo e sofrimento para redigir tudo aquilo que me acorre e socorre na minha
memória sobre a Memória. Tratá-la em seu aspecto sinestésico, através do qual os conteúdos do passado possam emigrar para o presente do ser devaneante, pressupõe considerá-la nas relações intrínsecas do trinômio: memória, imaginário e movimento.
O tema é
bastante amplo e complexo. Em verdade, trata-se de um problema filosófico ainda
sem respostas definitivas. Como eu vou entrar nessa discussão? A partir de que ponto posso explorar o que
preciso explorar? Em suma, que caminho devo tomar? Sei, apenas, que conheço a memória, pois dela me utilizo em
várias situações cotidianas, ritualísticas, profissionais. Por outro lado, pergunto-me se a entendo em
suas particularidades, em suas divisões epistêmicas, em seus atributos
neurotransmissores, etc. Hoje em dia se
fala muito em memória! Há receitas alimentares para mantê-la, há também
discussões calorosas sobre as doenças demenciais, uma das quais se caracteriza
pela perda da memória. e há a memória na literatura.
Creio, então, que o melhor é
organizar meus pensamentos.
quinta-feira, 5 de abril de 2012
banca de dissertação
no momento estou lendo a dissertação da mestranda miliana mariano da silva, orientada pela profa. dra. maria de fátima cruvinel, do programa de pós-graduação em letras e lingüística da universidade federal de goiás. a dissertação se intitula "memória escolar e literatura", sobre as representações da escola em "infância", de graciliano, "doidinho", de zé lins, "boitempo", de drummond, e "vintém de cobre" de cora coralina. a defesa está marcada para o dia 10 de abril, em goiânia, bela cidade do interiorzão do brasil.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
[Projeto para estágio de pós-doutoramento em andamento]
O LABIRINTO E O LAGO NAS ALTURAS
(LEITURAS DE POESIA – FERNANDO PESSOA E
AUGUSTO MEYER)
1.1 ANTECEDENTES
Desde meu curso de Mestrado em Literatura
Brasileira[1],
passando pelo doutoramento na mesma área[2],
ambos cursos realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tenho
desenvolvido trabalho de investigação sobre as manifestações literárias
inseridas na etiqueta “literatura íntima”. Após esse período de formação
acadêmica, continuei minhas pesquisas relativas ao gênero autobiográfico
através de orientações na graduação, com alunos bolsistas pibic-cnpq, bem como
no curso de mestrado História da Literatura, FURG, com meus orientandos. Os
resultados têm sido utilizados nas aulas ministradas especialmente na
pós-graduação; as publicações que tenho feito igualmente têm seguido esse
caminho[3].
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