1 PLANO GERAL DO TRABALHO
1.1 ANTECEDENTES
Desde meu
curso de Mestrado em Literatura Brasileira[1],
passando pelo doutoramento na mesma área[2],
ambos cursos realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tenho
desenvolvido trabalho de investigação sobre as manifestações literárias
inseridas na etiqueta “literatura íntima”. Após esse período de formação
acadêmica, continuei minhas pesquisas relativas ao gênero autobiográfico
através de orientações na graduação, com alunos bolsistas pibic-cnpq, bem como
no curso de mestrado História da Literatura, FURG, com meus orientandos. Os
resultados têm sido utilizados nas aulas ministradas especialmente na
pós-graduação; as publicações que tenho feito igualmente têm seguido esse
caminho[3].
O ensaio Hibridação e identidade na poesia
autobiográfica de Carlos Drummond de Andrade trata de processos
autobiográficos em livros de Drummond posteriores à publicação da série Boitempo, a qual já foi alvo de pesquisa
em minha tese de doutoramento. A partir de certos procedimentos drummondianos,
escolhi alguns poemas diversos, os quais deixam à mostra a perspectiva do
oxímoro como construção literária definidora de sua visão de mundo pessoal. As
marcas da hibridação, fundamento desta figura de estilo característica do
barroco brasileiro, se estendem, de
forma significativa, pela obra e pelo gênero autobiográfico praticado por ele.
Longe de
encerrar a problematização do gênero autobiográfico, o qual, como pude
observar, imiscui-se na lírica camuflando-a como um discurso meramente
ficcional,
busquei apoio nas idéias de Antonio Candido. Analisando a produção
de Graciliano Ramos, o crítico se refere a determinadas propostas literárias de
alguns escritores. Ele observa que alguns se realizam no terreno da confissão;
outros, no entanto, buscam a criação ficcional para se expressar. E há, ainda,
os que produzem sob a premência da ficção e da confissão, de forma autônoma,
mas complementar. Diz Antonio Candido:
O caso mais freqüente, porém, é o do
romancista ou poeta que a certa altura sente necessidade de revelar-se
diretamente, escrevendo confissões que completam e esclarecem a obra de criação
– como estamos vendo em nossa literatura com Oswald de Andrade, Manuel
Bandeira, Augusto Frederico Schmidt, Augusto Meyer, Álvaro Moreyra, Gilberto
Amado.[4]
Propus-me,
então, um alargamento paulatino de corpus, mas sem descuidar das questões
teóricas referentes ao gênero autobiográfico. Na esteira de nomes
paradigmáticos do Modernismo Brasileiro, escolhi a produção de Manuel Bandeira,
cuja obra poética encerra questões pertinentes ao meu tema de pesquisa. Sua
importância é valor consensual e, justamente, assegurada por este juízo, pude
observar que Bandeira publicou seu livro autobiográfico Itinerário de Pasárgada quando contava 68 anos (mesma idade em que
Drummond publica o primeiro volume de Boitempo).
Contudo, esta produção autobiográfica de Bandeira se realiza inversamente à de
Drummond: isto é, concretiza-se no reino da prosa narrativa. E, da mesma forma
como sucede ao mineiro, Bandeira apresenta em sua Estrela da vida inteira várias peças poéticas que tematizam o
autobiográfico.
Na
continuidade da pesquisa, observei que um dos mitos formadores da modernidade
(e da alta modernidade) é, não por coincidência, um dos aspectos mais
intrínsecos ao ato autobiográfico: o mito de Narciso. Esse mito parece ser o
grande elemento impulsionador da autobiografia em Carlos Drummond de Andrade.
Como sintoma mais visível e presente, basta apontar o grande número de poemas
nos quais o poeta declara-se torto, estranho, solitário, fendido em dois, o gauche que já se declarava em 1930 no
não menos famoso Poema de sete faces,
além de “Aquele córrego”, de Boitempo III, analisado em minha tese
sobre o poeta.
Já
em Manuel Bandeira, a presença do mito de Narciso na constituição do sujeito
também se dá pela urgência problematizadora de sua imagem, mas o que parece
determinante para sua escrita
autobiográfica é um outro mito, igualmente importante para a modernidade: o
mito de Teseu. O grande herói fundador que enfrenta o monstro Minotauro dentro
de uma imensa caverna a qual só tem acesso pelos caminhos tortuosos de um menos
insano labirinto. É o sujeito que sozinho não vence, pois necessita de algo que
o localize no espaço e no tempo: o fio de Ariadne que fornece a memória de que
não dispõe. Trata-se de um herói meio tosco e que esquece de tudo. É o
desmemoriado e por isso mesmo precisa lembrar.
Manuel
Bandeira, como o amigo Carlos Drummond de Andrade, também foge do padrão
autobiográfico. As coisas do homem não serão colocadas no Itinerário de Pasárgada, mas em uma série de poemas espalhados por
toda sua obra poemática. A poesia leva-o à construção de um labirinto de
palavras, de poemas, de temas e assuntos, todos carregados da individualidade
autobiográfica. Esse é um dos pontos analisados no meu artigo Autobiografia em Manuel Bandeira: o outro
itinerário de Pasárgada, resultante de um projeto PIBIC – CNPq.
Entretanto,
mesmo trabalhando preferencialmente com poetas modernistas, incluí em minhas
pesquisas dois nomes significativos para a discussão sobre o gênero
autobiográfico. Uma recente publicação chamou muita atenção por parte da
crítica e, principalmente, dos leitores. Refiro-me à Paula, da escritora chilena Isabel Allende. No ensaio Isabel Allende: identidades na palavra
autobiográfica busquei esclarecer algumas questões na formulação do sujeito
autobiográfico através de suas imagens especulares. A autora estipula um
contrato de leitura, quer dizer, um pacto autobiográfico cujas partes “autora”,
“narradora” e “protagonista” trocam alternadamente de lugar com sua filha
Paula, morta por doença rara. Este episódio vivencial serve de pretexto para a
escrita autobiográfica de Isabel Allende. É interessante notar a presença da
morte como força propulsora da palavra autobiográfica, mas não mais intimamente
ligada à autobiógrafa. A morte, neste caso, empurra a escrita de quem não vai
morrer.
Na
seqüência, o nome de Graciliano Ramos, ainda que não fosse poeta, também se
impôs por força de sua produção: Memórias
do cárcere. O projeto Memórias do cárcere e a invenção autobiográfica da prisão,
PIBIC – CNPq, teve como corpus
fundamental a experiência da prisão. Seu texto forma um complexo labirinto da
memória e da escrita, cujo papel principal é o resgate de fatos históricos
passados na vigência da Ditadura Vargas, especialmente entre março de 1936 a
janeiro de 1937, período em que o autobiógrafo esteve irregularmente detido
pela Polícia Política. O ensaio resultante deste projeto, isto é, As malhas da ficção no entrecho da História:
Memórias do cárcere na constituição
do gênero autobiográfico, analisa os processos constitutivos do pacto
autobiográfico estabelecido no primeiro capítulo, em virtude de algumas marcas
da construção ficcional de Graciliano Ramos.
Dando
continuidade às pesquisas sobre os elementos constitutivos do gênero, elegi o
poeta Murilo Mendes em virtude de sua relação com o Modernismo e, é claro, de
sua postura autobiográfica em relação a sua “identidade” poética. A partir de
uma vivência órfica da poesia, sua autobiografia, A idade do serrote, se faz sob a chancela do mito de Orfeu, que se
estende, ou melhor, que ressoa em toda sua produção poética. Face essa
problemática, o projeto PIBIC – CNPq O
Orfeu desconcertado: a escrita autobiográfica em Murilo Mendes buscou
investigar alguns procedimentos autobiográficos em sua obra, aqui tomada no
âmbito da poesia propriamente dita, e no volume assumidamente autobiográfico A idade do serrote. Novamente se percebe
a preocupação dos poetas em restringirem suas autobiografias a um período de
“inauguração”, de fundação ou nascimento do ser das letras. A linguagem assume,
dessa forma, um caráter vital de única possibilidade de existência. Estes
elementos estão presentes no artigo O
tempo da infância em Murilo Mendes, apresentado no “I Simpósio
Internacional – escrever a vida. Novas abordagens de uma teoria
autobiográfica”, na USP, em 2005, ainda aguardando a devida publicação.
Na
firme proposta de abranger um número maior de poetas modernistas como corpus,
encontrei em Augusto Meyer um nicho exemplar. Por se tratar de um gaúcho, já
que uma das linhas de pesquisa da pós-graduação da FURG é, justamente, História
da Literatura do Rio Grande do Sul, entendi que Meyer também se coloca como
transgressor a uma série de artifícios literários padronizados, aos quais os
poetas já incluídos na pesquisa igualmente subvertem. Assim, o projeto PIBIC -
CNPq Caminhos e trilhas do gênero
autobiográfico propõe-se a rever algumas marcas autobiográficas em sua
poesia, bem como a buscar o imaginário sobre a infância em sua autobiografia Segredos da infância – No tempo da flor.
Para
finalizar, acho necessário ressaltar que estes projetos pibic-cnpq foram e
continuam a ser germens de dissertações as quais tenho orientado no Programa de
Pós-graduação em Letras da FURG. No ano de 2003, com defesa em maio de 2004,
orientei dissertação intitulada “A água na poesia bandeiriana: a concretude do
líquido”, em 2004, com defesa em agosto de 2005, a dissertação “O poeta Murilo
Mendes na revelação autobiográfica de ‘A idade do serrote’”. Desde 2004
permanecem sob minha orientação duas alunas do curso de mestrado, as quais
deverão defender seus respectivos trabalhos ainda neste semestre, e que tratam das escritas autobiográficas de
Manoel de Barros (Memórias inventadas – a
infância) e de Augusto Meyer (Segredos
da infância), ambas em fase de conclusão e com títulos provisórios.
1.2 PROBLEMÁTICA
(estudos da questão)
Apenas
recentemente o gênero autobiográfico tem encontrado guarida nos estudos
literários. Não obstante, ainda são poucas as pesquisas cujas propostas
pretendem um novo tratamento para as produções autobiográficas. É preciso
desistigmatizá-las como peças documentais de uma determinada época em que pese
o registro da História em detrimento do extrato literário. A carência de uma
certa sistematização para o gênero autobiográfico em suas especificidades é
notória, pois é comum a rotulação imprecisa, que tem sido generalizante e não
tem levado em consideração as marcas diferenciadoras e as problematizações
estético-formais da “literatura íntima”. Dentro dessa perspectiva, há muito a
ser estudado.
Via de regra,
as produções autobiográficas inserem-se em dois ambientes, porque a substância
de que são feitas é justamente um espaço intervalar: o da realidade
propriamente dita, o que tem justificado a perspectiva nitidamente
historiográfica, já que o autobiógrafo efetivamente viveu; e o da
ficcionalidade, que caracteriza o texto como fabulação e, portanto, produto da
imaginação literária. Essa identidade compósita traz várias questões a serem
consideradas. Como lidar com a ilusão de realidade? Quais estratégias
narrativas serão as mais adequadas para a credibilidade necessária? Que artifícios lingüísticos serão os mais
apropriados para assegurar a autofascinação? E as relações de identidade do
autobiógrafo como representante assumido de uma determinada época histórica?
Ele é o “olho particular” do historiador?
Por outro
lado, vale salientar que alguns temas são constantes. O sujeito que decide
contar sua própria vida, inevitavelmente acaba por multiplicar-se em
eu-do-passado e eu-atual, disso resultando um interessante desvio de tempo e de
identidade no autobiógrafo. No entanto, a vivência do duplo também propicia
questionamentos acerca do fazer literário, na medida em que o texto
autobiográfico de escritores reconhecidos dialoga com suas produções
ficcionais, estabelecendo assim um fecundo diálogo metaliterário.
O contrato de
leitura, outro aspecto de importância capital, estabelece algumas regras entre
autobiógrafo e leitor, nas quais o autor assume certas identidades e lança mão
de artifícios narrativos para corroborar seu “depoimento verdadeiro” sobre os
fatos por ele narrados. A presença da morte, outro aspecto recorrente,
impulsiona a escrita autobiográfica, podendo admitir várias faces e inúmeras
implicações ideológicas, como a noção de finitude, como a perenidade da
escrita e como a noção do erótico.
Saliento, ainda, a aguda busca de identidade através do registro do nascimento
em suas amplas etapas constitutivas. Fazem parte desse processo de
autoconsciência alguns ritos de passagem, os quais acabarão por conferir ao
autobiógrafo a idéia da sua existência propriamente dita. Assim, comporão a
malha textual os seguintes assuntos: o nascimento, os pais, os irmãos, a casa e
seus desvãos, os sexos, a literatura, a morte. Interessante observar que as
narrativas de nascimento não são delimitadas por datas pontuais, mas sim pela
autoconsciência que passa a afirmar-se no texto e cuja duração tanto pode
abranger um curto período de dois anos, quanto duas décadas. As autobiografias
dos poetas e dos escritores, em geral, referem-se a esse período de inauguração
do sujeito no mundo, encerrando-se preferencialmente no momento em que o
autobiógrafo assume a sua personalidade de poeta/escritor.
Ocorrem no
autobiógrafo, igualmente, as marcas da modernidade pela revivência de certos
mitos gregos, a exemplo de Narciso, de Teseu e de Orfeu. Tais mitos aparecem
não como releituras explicitadas na malha textual, através de referências
diretas, mas sim como releituras do modus vivendi que o autobiógrafo incorpora.
A Literatura sempre se entregou como palco exemplar para que as reescrituras de
mitos pudessem alcançar um patamar não apenas social, mas também estético. O
gênero autobiográfico, por causa de suas implicações com a modernidade, e mais
recentemente com a alta modernidade, se mostra bastante fecundo quanto a este
aspecto. Dizia Joseph Campbell que os mitos são marcados por ritos que
sinalizam o amadurecimento psicossomático do homem; assim se dá na
autobiografia, porque dela não se pode apartar uma certa intenção pedagógica.
Cabe registrar
que, atualmente, têm sido presentes nos estudos de pós-graduação, como uma
espécie de apoio logístico, as leituras de cartas de escritores
paradigmáticos dirigidas aos amigos e/ou
pares de profissão. Estas encerram uma problematização diferente daquela que
estou buscando, pois meu interesse consiste em observar os procedimentos e as
articulações das narrativas retrospectivas de uma vida feita por ela mesma,
isto é, as autobiografias. O centro das minhas investigações refere-se ao
estatuto estético-literário das escritas autobiográficas como constituição de
gênero literário, flexionando, é claro, os limites entre a narratividade, a
liricidade e a dramaticidade.
Muitos são os
escritores que resolvem registrar “oficialmente” suas autobiografias. Os
poetas, em especial, deixam-se marcar pela necessidade de se contar além das
malhas textuais de seus poemas, cujo fundamento é produto da ficção. A
engenhosidade com que se entregam à palavra autobiográfica abre perspectivas de
leituras inusitadas.
Com essas
preocupações, certos nomes são significativos para o desenvolvimento desta
pesquisa. A continuidade do trabalho já começado com a poesia autobiográfica
de Manuel Bandeira passa agora a
reclamar o cotejo comparatista com sua autobiografia Itinerário de Pasárgada[5].
Murilo Mendes
geralmente é mencionado como poeta hermético, como poeta surrealista,
ocasionalmente como poeta modernista, como poeta do trágico, como poeta
católico. Não obstante essas tentativas de definições, ele viveu a poesia de
forma inteiramente orgânica e produziu, concomitante à sua poesia de
manifestações autobiográficas (como Drummond e Bandeira), um texto
autobiográfico, intitulado A idade do
serrote[6]. Texto
prenhe de simbologias murilianas, sua autobiografia se realiza sob certas
questões estéticas do gênero, contestando-as e renovando-as a partir de uma
nova perspectiva para a linguagem autobiográfica. O sentimento poético funda
sua existência e também define sua autobiografia.
Na
continuidade da composição do corpus, o gaúcho Augusto Meyer, com Segredos da infância / No tempo da flor[7],
encerra os poetas a serem estudados neste momento da pesquisa. A composição dos
nomes, cujos textos autobiográficos comporão esse corpus inicial, obedece
prioritariamente o critério temporal de restringir-se ao Modernismo Brasileiro.
Por se tratar de uma época vinculada às transgressões dos padrões literários
vigentes do Brasil à época, as carreiras literárias dos poetas começadas nos
efervescentes anos 20 e 30 do século XX, são marcadas pela ruptura daquilo que
era consenso a respeito de poesia. No que tange às suas respectivas
autobiografias, a correlação é inevitável. Carlos Drummond de Andrade[8],
Manuel Bandeira, Murilo Mendes e Augusto Meyer se entregaram ao prazeroso ato
autobiográfico e o fizeram tangidos pela necessidade interior de buscar não um
despretensioso depoimento pessoal, mas sim uma criação literária regida pelo
mesmo senso estético que marcou suas respectivas poesias.
1.3 JUSTIFICATIVA
a)
pelo crescente aumento de produções autobiográficas, as
quais questionam o estatuto literário, ao mesmo tempo em que acrescentam novas
perspectivas para o gênero;
b)
pela vivência aguda da condição individual do ser
humano, retratada nas produções autobiográficas, tendo como pano de fundo a
época de crise dessa mesma individualidade que a modernidade apresenta;
c)
pela necessidade de continuar os estudos relativos ao
gênero autobiográfico no Brasil, tendo como corpus inicial os textos Itinerário de Pasárgada, A idade do serrote e Segredos da infância / No tempo da flor,
produções geralmente esquecidas pela crítica quando se estudam os poetas Manuel
Bandeira, Murilo Mendes e Augusto Meyer, respectivamente;
d)
pela imensa e incontestável importância das figuras
paradigmáticas de Manuel Bandeira, de Murilo Mendes e de Augusto Meyer no
panorama da Literatura Modernista em seus respectivos nichos literários, pois
eles abrem caminho para novas propostas
de escrever autobiografias diferentes daquelas padronizadas como matrizes do
gênero.
1.4 OBJETIVOS
a)
dar prosseguimento ao trabalho de pesquisa que venho
realizando desde meu curso de mestrado, passando pelo doutoramento e minhas
atividades acadêmicas e docentes, fomentando, assim, a criação de novas
disciplinas no âmbito da pós-graduação;
b)
sistematização e posterior elaboração de um livro
ensaístico sobre o tema, envolvendo os poetas que formam o corpus dessa
pesquisa;
c)
observar o estatuto estético-literário das escrituras
autobiográficas como constituição de gênero literário, flexionando os limites
entre narratividade, liricidade e dramaticidade;
d)
fornecer elementos mais contundentes com vistas à
compreensão do fenômeno ainda tão recorrente na Literatura Brasileira do século
XX, qual seja a grande profusão de textos que se propõem como autobiografias,
diários, memórias, etc;
e)
possibilitar uma maior compreensão para outros
procedimentos autobiográficos, que não os tradicionais em prosa, recorrente em
outros poetas brasileiros, especialmente os companheiros de geração de
Drummond, poeta que originou estas propostas de estudos.
1.5 EXPECTATIVAS
DE PRODUÇÃO
Os resultados deverão:
a)
ser
apresentados, sob forma de mini-cursos, comunicações e/ou palestras em
seminários, congressos e outras atividades afins;
b)
servir de material para aulas curriculares na graduação
e, em especial, na pós-graduação em Letras – mestrado em História da
Literatura/FURG, bem como deverão servir de incentivo para novas pesquisas a
serem desenvolvidas por futuros mestrandos;
c)
fomentar novas linhas de pesquisa para a pós-graduação
e para a graduação
d)
resultar na elaboração de textos ensaísticos, os quais
integrarão um volume para publicação.
1.6 METODOLOGIA
Como se trata
de pesquisa de caráter bibliográfico, este projeto pressupõe trabalho de
consulta a textos teóricos e ficcionais. Dessa forma, a partir de aportes da
Teoria Literária, especificamente do âmbito dos estudos relativos ao gênero
autobiográfico, servirão como base teórica textos de Philippe Lejeune, Darío
Villanueva, Clara Crabbé Rocha, Nicolas Rosa, Luis Costa Lima, entre outros.
Vale dizer, então, que os textos formadores do corpus desta pesquisa serão
analisados em função de seus respectivos extratos autobiográficos.
A preocupação
exegética recairá sobre os elementos paradigmáticos do gênero e as diversas
possibilidades de transgressão a uma certa matriz de escrita. Com cerca de dez
temas para as “narrativas de nascimento”, que inauguram o ser no mundo, em
especial o mundo das letras, o autobiógrafo percorre um longo caminho de
auto-afirmação frente sua imagem refletida na sua escrita. Esses temas dão
conta da inauguração do sujeito e abarcam desde o nascimento uterino até a
consciência de que existe a morte e dela não há fuga possível, a não ser a
perenidade do registro escrito. Compactuando com esses elementos da “narrativa
do nascimento”, o pacto autobiográfico demandará certas perspectivas de
leituras, nas quais incidirão graus de credibilidade que irão conferir, por
força de seus argumentos ligados ao discurso historiográfico, um sentimento ou
uma ilusão de veracidade.
O padrão em
prosa será igualmente questionado, porque nesta pesquisa o autobiógrafo é
poeta; na grande maioria dos casos, eles costumam deixar ranhuras substanciais
nas produções autobiográficas. O
referencial teórico sobre o gênero lírico se fará, igualmente, presente, mas em
especial aquele que encaminha para as teorias acerca do imaginário, com dois
pensadores fundamentais, a saber: Gaston Bachelard, de quem utilizaremos o
conceito de “imaginação material” concebido a partir dos elementos
cosmogônicos; e Jean Burgos, estudioso do imaginário na poesia, que propõe os
regimes antitético, eufêmico e dialético na relação temporal para que as
imagens ganhem sentido no espaço textual. Ainda me valerei das idéias de
Gilbert Durand, antropólogo que recoloca em pauta as releituras dos mitos fundadores
a partir do fecundo conceito de “bacia semântica”.
2
CRONOGRAMA
Este projeto de pesquisa, que já
tem algumas de suas etapas parcialmente concluídas, prevê sua realização para
um período de dois, a contar de 2010, com possibilidade de prorrogação, se for
necessário.
3
BIBLIOGRAFIA
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[1] Na época defendi a dissertação intitulada Artur Arão: no intermédio da ficcionalidade
e da autobiografia, na qual, entre outros aspectos, fiz o levantamento de
uma série de requisitos ideológicos e formais para a efetivação de uma produção
dita autobiográfica.
[2] Em função das muitas questões teóricas que ficaram
pendentes, propus-me a alargar a abrangência de minhas pesquisas relativas ao
tema. Desse modo, minha tese de doutoramento, Boitempo: a poesia autobiográfica de Drummond, igualmente na área
de Literatura Brasileira, pela mesma Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
continua na mesma linha de pesquisa.
[3] Estas
publicações estão arroladas na bibliografia constante deste projeto.
[4]
CANDIDO, Antonio. Ficção e confissão
– ensaios sobre Graciliano Ramos. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992. p.69.
[5]
BANDEIRA, Manuel. Itinerário de Pasárgada.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
[6] MENDES,
Murilo. A idade do serrote. In.: Poesia
completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
[7] MEYER,
Augusto. Segredos da infância / No tempo
da flor. Porto Alegre: IEL / Ed. Da UFRGS, 1996.
[8] Objeto
de investigação em meu doutoramento, conforme explicitado no item 1.1
Antecedentes.
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