sábado, 5 de maio de 2012

autobiografia no brasil - estratégias de leituras


1 PLANO GERAL DO TRABALHO



1.1  ANTECEDENTES



Desde meu curso de Mestrado em Literatura Brasileira[1], passando pelo doutoramento na mesma área[2], ambos cursos realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tenho desenvolvido trabalho de investigação sobre as manifestações literárias inseridas na etiqueta “literatura íntima”. Após esse período de formação acadêmica, continuei minhas pesquisas relativas ao gênero autobiográfico através de orientações na graduação, com alunos bolsistas pibic-cnpq, bem como no curso de mestrado História da Literatura, FURG, com meus orientandos. Os resultados têm sido utilizados nas aulas ministradas especialmente na pós-graduação; as publicações que tenho feito igualmente têm seguido esse caminho[3].

O ensaio Hibridação e identidade na poesia autobiográfica de Carlos Drummond de Andrade trata de processos autobiográficos em livros de Drummond posteriores à publicação da série Boitempo, a qual já foi alvo de pesquisa em minha tese de doutoramento. A partir de certos procedimentos drummondianos, escolhi alguns poemas diversos, os quais deixam à mostra a perspectiva do oxímoro como construção literária definidora de sua visão de mundo pessoal. As marcas da hibridação, fundamento desta figura de estilo característica do barroco brasileiro,  se estendem, de forma significativa, pela obra e pelo gênero autobiográfico praticado por ele.

Longe de encerrar a problematização do gênero autobiográfico, o qual, como pude observar, imiscui-se na lírica camuflando-a como um discurso meramente ficcional,
busquei apoio nas idéias de Antonio Candido. Analisando a produção de Graciliano Ramos, o crítico se refere a determinadas propostas literárias de alguns escritores. Ele observa que alguns se realizam no terreno da confissão; outros, no entanto, buscam a criação ficcional para se expressar. E há, ainda, os que produzem sob a premência da ficção e da confissão, de forma autônoma, mas complementar. Diz Antonio Candido:

O caso mais freqüente, porém, é o do romancista ou poeta que a certa altura sente necessidade de revelar-se diretamente, escrevendo confissões que completam e esclarecem a obra de criação – como estamos vendo em nossa literatura com Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Augusto Frederico Schmidt, Augusto Meyer, Álvaro Moreyra, Gilberto Amado.[4] 

Propus-me, então, um alargamento paulatino de corpus, mas sem descuidar das questões teóricas referentes ao gênero autobiográfico. Na esteira de nomes paradigmáticos do Modernismo Brasileiro, escolhi a produção de Manuel Bandeira, cuja obra poética encerra questões pertinentes ao meu tema de pesquisa. Sua importância é valor consensual e, justamente, assegurada por este juízo, pude observar que Bandeira publicou seu livro autobiográfico Itinerário de Pasárgada quando contava 68 anos (mesma idade em que Drummond publica o primeiro volume de Boitempo). Contudo, esta produção autobiográfica de Bandeira se realiza inversamente à de Drummond: isto é, concretiza-se no reino da prosa narrativa. E, da mesma forma como sucede ao mineiro, Bandeira apresenta em sua Estrela da vida inteira várias peças poéticas que tematizam o autobiográfico.

            Na continuidade da pesquisa, observei que um dos mitos formadores da modernidade (e da alta modernidade) é, não por coincidência, um dos aspectos mais intrínsecos ao ato autobiográfico: o mito de Narciso. Esse mito parece ser o grande elemento impulsionador da autobiografia em Carlos Drummond de Andrade. Como sintoma mais visível e presente, basta apontar o grande número de poemas nos quais o poeta declara-se torto, estranho, solitário, fendido em dois, o gauche que já se declarava em 1930 no não menos famoso Poema de sete faces, além de  “Aquele córrego”, de Boitempo III, analisado em minha tese sobre o poeta.

            Já em Manuel Bandeira, a presença do mito de Narciso na constituição do sujeito também se dá pela urgência problematizadora de sua imagem, mas o que parece determinante para  sua escrita autobiográfica é um outro mito, igualmente importante para a modernidade: o mito de Teseu. O grande herói fundador que enfrenta o monstro Minotauro dentro de uma imensa caverna a qual só tem acesso pelos caminhos tortuosos de um menos insano labirinto. É o sujeito que sozinho não vence, pois necessita de algo que o localize no espaço e no tempo: o fio de Ariadne que fornece a memória de que não dispõe. Trata-se de um herói meio tosco e que esquece de tudo. É o desmemoriado e por isso mesmo precisa lembrar.

            Manuel Bandeira, como o amigo Carlos Drummond de Andrade, também foge do padrão autobiográfico. As coisas do homem não serão colocadas no Itinerário de Pasárgada, mas em uma série de poemas espalhados por toda sua obra poemática. A poesia leva-o à construção de um labirinto de palavras, de poemas, de temas e assuntos, todos carregados da individualidade autobiográfica. Esse é um dos pontos analisados no meu artigo Autobiografia em Manuel Bandeira: o outro itinerário de Pasárgada, resultante de um projeto PIBIC – CNPq.

            Entretanto, mesmo trabalhando preferencialmente com poetas modernistas, incluí em minhas pesquisas dois nomes significativos para a discussão sobre o gênero autobiográfico. Uma recente publicação chamou muita atenção por parte da crítica e, principalmente, dos leitores. Refiro-me à Paula, da escritora chilena Isabel Allende. No ensaio Isabel Allende: identidades na palavra autobiográfica busquei esclarecer algumas questões na formulação do sujeito autobiográfico através de suas imagens especulares. A autora estipula um contrato de leitura, quer dizer, um pacto autobiográfico cujas partes “autora”, “narradora” e “protagonista” trocam alternadamente de lugar com sua filha Paula, morta por doença rara. Este episódio vivencial serve de pretexto para a escrita autobiográfica de Isabel Allende. É interessante notar a presença da morte como força propulsora da palavra autobiográfica, mas não mais intimamente ligada à autobiógrafa. A morte, neste caso, empurra a escrita de quem não vai morrer.

            Na seqüência, o nome de Graciliano Ramos, ainda que não fosse poeta, também se impôs por força de sua produção: Memórias do cárcere. O projeto Memórias do cárcere e a invenção autobiográfica da prisão, PIBIC – CNPq,  teve como corpus fundamental a experiência da prisão. Seu texto forma um complexo labirinto da memória e da escrita, cujo papel principal é o resgate de fatos históricos passados na vigência da Ditadura Vargas, especialmente entre março de 1936 a janeiro de 1937, período em que o autobiógrafo esteve irregularmente detido pela Polícia Política. O ensaio resultante deste projeto, isto é, As malhas da ficção no entrecho da História: Memórias do cárcere na constituição do gênero autobiográfico, analisa os processos constitutivos do pacto autobiográfico estabelecido no primeiro capítulo, em virtude de algumas marcas da construção ficcional de Graciliano Ramos. 

            Dando continuidade às pesquisas sobre os elementos constitutivos do gênero, elegi o poeta Murilo Mendes em virtude de sua relação com o Modernismo e, é claro, de sua postura autobiográfica em relação a sua “identidade” poética. A partir de uma vivência órfica da poesia, sua autobiografia, A idade do serrote, se faz sob a chancela do mito de Orfeu, que se estende, ou melhor, que ressoa em toda sua produção poética. Face essa problemática, o projeto PIBIC – CNPq O Orfeu desconcertado: a escrita autobiográfica em Murilo Mendes buscou investigar alguns procedimentos autobiográficos em sua obra, aqui tomada no âmbito da poesia propriamente dita, e no volume assumidamente autobiográfico A idade do serrote. Novamente se percebe a preocupação dos poetas em restringirem suas autobiografias a um período de “inauguração”, de fundação ou nascimento do ser das letras. A linguagem assume, dessa forma, um caráter vital de única possibilidade de existência. Estes elementos estão presentes no artigo O tempo da infância em Murilo Mendes, apresentado no “I Simpósio Internacional – escrever a vida. Novas abordagens de uma teoria autobiográfica”, na USP, em 2005, ainda aguardando a devida publicação.

            Na firme proposta de abranger um número maior de poetas modernistas como corpus, encontrei em Augusto Meyer um nicho exemplar. Por se tratar de um gaúcho, já que uma das linhas de pesquisa da pós-graduação da FURG é, justamente, História da Literatura do Rio Grande do Sul, entendi que Meyer também se coloca como transgressor a uma série de artifícios literários padronizados, aos quais os poetas já incluídos na pesquisa igualmente subvertem. Assim, o projeto PIBIC - CNPq Caminhos e trilhas do gênero autobiográfico propõe-se a rever algumas marcas autobiográficas em sua poesia, bem como a buscar o imaginário sobre a infância em sua autobiografia Segredos da infância – No tempo da flor. 

Para finalizar, acho necessário ressaltar que estes projetos pibic-cnpq foram e continuam a ser germens de dissertações as quais tenho orientado no Programa de Pós-graduação em Letras da FURG. No ano de 2003, com defesa em maio de 2004, orientei dissertação intitulada “A água na poesia bandeiriana: a concretude do líquido”, em 2004, com defesa em agosto de 2005, a dissertação “O poeta Murilo Mendes na revelação autobiográfica de ‘A idade do serrote’”. Desde 2004 permanecem sob minha orientação duas alunas do curso de mestrado, as quais deverão defender seus respectivos trabalhos ainda neste semestre,  e que tratam das escritas autobiográficas de Manoel de Barros (Memórias inventadas – a infância) e de Augusto Meyer (Segredos da infância), ambas em fase de conclusão e com títulos provisórios.



1.2  PROBLEMÁTICA (estudos da questão)



Apenas recentemente o gênero autobiográfico tem encontrado guarida nos estudos literários. Não obstante, ainda são poucas as pesquisas cujas propostas pretendem um novo tratamento para as produções autobiográficas. É preciso desistigmatizá-las como peças documentais de uma determinada época em que pese o registro da História em detrimento do extrato literário. A carência de uma certa sistematização para o gênero autobiográfico em suas especificidades é notória, pois é comum a rotulação imprecisa, que tem sido generalizante e não tem levado em consideração as marcas diferenciadoras e as problematizações estético-formais da “literatura íntima”. Dentro dessa perspectiva, há muito a ser estudado.

Via de regra, as produções autobiográficas inserem-se em dois ambientes, porque a substância de que são feitas é justamente um espaço intervalar: o da realidade propriamente dita, o que tem justificado a perspectiva nitidamente historiográfica, já que o autobiógrafo efetivamente viveu; e o da ficcionalidade, que caracteriza o texto como fabulação e, portanto, produto da imaginação literária. Essa identidade compósita traz várias questões a serem consideradas. Como lidar com a ilusão de realidade? Quais estratégias narrativas serão as mais adequadas para a credibilidade necessária?  Que artifícios lingüísticos serão os mais apropriados para assegurar a autofascinação? E as relações de identidade do autobiógrafo como representante assumido de uma determinada época histórica? Ele é o “olho particular” do historiador?

Por outro lado, vale salientar que alguns temas são constantes. O sujeito que decide contar sua própria vida, inevitavelmente acaba por multiplicar-se em eu-do-passado e eu-atual, disso resultando um interessante desvio de tempo e de identidade no autobiógrafo. No entanto, a vivência do duplo também propicia questionamentos acerca do fazer literário, na medida em que o texto autobiográfico de escritores reconhecidos dialoga com suas produções ficcionais, estabelecendo assim um fecundo diálogo metaliterário.

O contrato de leitura, outro aspecto de importância capital, estabelece algumas regras entre autobiógrafo e leitor, nas quais o autor assume certas identidades e lança mão de artifícios narrativos para corroborar seu “depoimento verdadeiro” sobre os fatos por ele narrados. A presença da morte, outro aspecto recorrente, impulsiona a escrita autobiográfica, podendo admitir várias faces e inúmeras implicações ideológicas, como a noção de finitude, como a perenidade da escrita  e como a noção do erótico. Saliento, ainda, a aguda busca de identidade através do registro do nascimento em suas amplas etapas constitutivas. Fazem parte desse processo de autoconsciência alguns ritos de passagem, os quais acabarão por conferir ao autobiógrafo a idéia da sua existência propriamente dita. Assim, comporão a malha textual os seguintes assuntos: o nascimento, os pais, os irmãos, a casa e seus desvãos, os sexos, a literatura, a morte. Interessante observar que as narrativas de nascimento não são delimitadas por datas pontuais, mas sim pela autoconsciência que passa a afirmar-se no texto e cuja duração tanto pode abranger um curto período de dois anos, quanto duas décadas. As autobiografias dos poetas e dos escritores, em geral, referem-se a esse período de inauguração do sujeito no mundo, encerrando-se preferencialmente no momento em que o autobiógrafo assume a sua personalidade de poeta/escritor.

Ocorrem no autobiógrafo, igualmente, as marcas da modernidade pela revivência de certos mitos gregos, a exemplo de Narciso, de Teseu e de Orfeu. Tais mitos aparecem não como releituras explicitadas na malha textual, através de referências diretas, mas sim como releituras do modus vivendi que o autobiógrafo incorpora. A Literatura sempre se entregou como palco exemplar para que as reescrituras de mitos pudessem alcançar um patamar não apenas social, mas também estético. O gênero autobiográfico, por causa de suas implicações com a modernidade, e mais recentemente com a alta modernidade, se mostra bastante fecundo quanto a este aspecto. Dizia Joseph Campbell que os mitos são marcados por ritos que sinalizam o amadurecimento psicossomático do homem; assim se dá na autobiografia, porque dela não se pode apartar uma certa intenção pedagógica.

Cabe registrar que, atualmente, têm sido presentes nos estudos de pós-graduação, como uma espécie de apoio logístico, as leituras de cartas de escritores paradigmáticos  dirigidas aos amigos e/ou pares de profissão. Estas encerram uma problematização diferente daquela que estou buscando, pois meu interesse consiste em observar os procedimentos e as articulações das narrativas retrospectivas de uma vida feita por ela mesma, isto é, as autobiografias. O centro das minhas investigações refere-se ao estatuto estético-literário das escritas autobiográficas como constituição de gênero literário, flexionando, é claro, os limites entre a narratividade, a liricidade e a dramaticidade.

Muitos são os escritores que resolvem registrar “oficialmente” suas autobiografias. Os poetas, em especial, deixam-se marcar pela necessidade de se contar além das malhas textuais de seus poemas, cujo fundamento é produto da ficção. A engenhosidade com que se entregam à palavra autobiográfica abre perspectivas de leituras inusitadas.

Com essas preocupações, certos nomes são significativos para o desenvolvimento desta pesquisa. A continuidade do trabalho já começado com a poesia autobiográfica de  Manuel Bandeira passa agora a reclamar o cotejo comparatista com sua autobiografia Itinerário de Pasárgada[5].

Murilo Mendes geralmente é mencionado como poeta hermético, como poeta surrealista, ocasionalmente como poeta modernista, como poeta do trágico, como poeta católico. Não obstante essas tentativas de definições, ele viveu a poesia de forma inteiramente orgânica e produziu, concomitante à sua poesia de manifestações autobiográficas (como Drummond e Bandeira), um texto autobiográfico, intitulado A idade do serrote[6]. Texto prenhe de simbologias murilianas, sua autobiografia se realiza sob certas questões estéticas do gênero, contestando-as e renovando-as a partir de uma nova perspectiva para a linguagem autobiográfica. O sentimento poético funda sua existência e também define sua autobiografia.

Na continuidade da composição do corpus, o gaúcho Augusto Meyer, com Segredos da infância / No tempo da flor[7], encerra os poetas a serem estudados neste momento da pesquisa. A composição dos nomes, cujos textos autobiográficos comporão esse corpus inicial, obedece prioritariamente o critério temporal de restringir-se ao Modernismo Brasileiro. Por se tratar de uma época vinculada às transgressões dos padrões literários vigentes do Brasil à época, as carreiras literárias dos poetas começadas nos efervescentes anos 20 e 30 do século XX, são marcadas pela ruptura daquilo que era consenso a respeito de poesia. No que tange às suas respectivas autobiografias, a correlação é inevitável. Carlos Drummond de Andrade[8], Manuel Bandeira, Murilo Mendes e Augusto Meyer se entregaram ao prazeroso ato autobiográfico e o fizeram tangidos pela necessidade interior de buscar não um despretensioso depoimento pessoal, mas sim uma criação literária regida pelo mesmo senso estético que marcou suas respectivas poesias.



1.3  JUSTIFICATIVA



a)      pelo crescente aumento de produções autobiográficas, as quais questionam o estatuto literário, ao mesmo tempo em que acrescentam novas perspectivas para o gênero;

b)      pela vivência aguda da condição individual do ser humano, retratada nas produções autobiográficas, tendo como pano de fundo a época de crise dessa mesma individualidade que a modernidade apresenta;

c)      pela necessidade de continuar os estudos relativos ao gênero autobiográfico no Brasil, tendo como corpus inicial os textos Itinerário de Pasárgada, A idade do serrote e Segredos da infância / No tempo da flor, produções geralmente esquecidas pela crítica quando se estudam os poetas Manuel Bandeira, Murilo Mendes e Augusto Meyer, respectivamente;

d)     pela imensa e incontestável importância das figuras paradigmáticas de Manuel Bandeira, de Murilo Mendes e de Augusto Meyer no panorama da Literatura Modernista em seus respectivos nichos literários, pois eles abrem caminho para  novas propostas de escrever autobiografias diferentes daquelas padronizadas como matrizes do gênero.



1.4  OBJETIVOS



a)      dar prosseguimento ao trabalho de pesquisa que venho realizando desde meu curso de mestrado, passando pelo doutoramento e minhas atividades acadêmicas e docentes, fomentando, assim, a criação de novas disciplinas no âmbito da pós-graduação;

b)      sistematização e posterior elaboração de um livro ensaístico sobre o tema, envolvendo os poetas que formam o corpus dessa pesquisa;

c)      observar o estatuto estético-literário das escrituras autobiográficas como constituição de gênero literário, flexionando os limites entre narratividade, liricidade e dramaticidade;

d)     fornecer elementos mais contundentes com vistas à compreensão do fenômeno ainda tão recorrente na Literatura Brasileira do século XX, qual seja a grande profusão de textos que se propõem como autobiografias, diários, memórias, etc;

e)      possibilitar uma maior compreensão para outros procedimentos autobiográficos, que não os tradicionais em prosa, recorrente em outros poetas brasileiros, especialmente os companheiros de geração de Drummond, poeta que originou estas propostas de estudos.



1.5  EXPECTATIVAS DE PRODUÇÃO



Os resultados deverão:



a)       ser apresentados, sob forma de mini-cursos, comunicações e/ou palestras em seminários, congressos e outras atividades afins;

b)      servir de material para aulas curriculares na graduação e, em especial, na pós-graduação em Letras – mestrado em História da Literatura/FURG, bem como deverão servir de incentivo para novas pesquisas a serem desenvolvidas por futuros mestrandos;

c)      fomentar novas linhas de pesquisa para a pós-graduação e para a graduação

d)     resultar na elaboração de textos ensaísticos, os quais integrarão um volume para publicação.



1.6  METODOLOGIA



Como se trata de pesquisa de caráter bibliográfico, este projeto pressupõe trabalho de consulta a textos teóricos e ficcionais. Dessa forma, a partir de aportes da Teoria Literária, especificamente do âmbito dos estudos relativos ao gênero autobiográfico, servirão como base teórica textos de Philippe Lejeune, Darío Villanueva, Clara Crabbé Rocha, Nicolas Rosa, Luis Costa Lima, entre outros. Vale dizer, então, que os textos formadores do corpus desta pesquisa serão analisados em função de seus respectivos extratos autobiográficos.

A preocupação exegética recairá sobre os elementos paradigmáticos do gênero e as diversas possibilidades de transgressão a uma certa matriz de escrita. Com cerca de dez temas para as “narrativas de nascimento”, que inauguram o ser no mundo, em especial o mundo das letras, o autobiógrafo percorre um longo caminho de auto-afirmação frente sua imagem refletida na sua escrita. Esses temas dão conta da inauguração do sujeito e abarcam desde o nascimento uterino até a consciência de que existe a morte e dela não há fuga possível, a não ser a perenidade do registro escrito. Compactuando com esses elementos da “narrativa do nascimento”, o pacto autobiográfico demandará certas perspectivas de leituras, nas quais incidirão graus de credibilidade que irão conferir, por força de seus argumentos ligados ao discurso historiográfico, um sentimento ou uma ilusão de veracidade.

O padrão em prosa será igualmente questionado, porque nesta pesquisa o autobiógrafo é poeta; na grande maioria dos casos, eles costumam deixar ranhuras substanciais nas  produções autobiográficas. O referencial teórico sobre o gênero lírico se fará, igualmente, presente, mas em especial aquele que encaminha para as teorias acerca do imaginário, com dois pensadores fundamentais, a saber: Gaston Bachelard, de quem utilizaremos o conceito de “imaginação material” concebido a partir dos elementos cosmogônicos; e Jean Burgos, estudioso do imaginário na poesia, que propõe os regimes antitético, eufêmico e dialético na relação temporal para que as imagens ganhem sentido no espaço textual. Ainda me valerei das idéias de Gilbert Durand, antropólogo que recoloca em pauta as releituras dos mitos fundadores a partir do fecundo conceito de “bacia semântica”.



2        CRONOGRAMA



Este projeto de pesquisa, que já tem algumas de suas etapas parcialmente concluídas, prevê sua realização para um período de dois, a contar de 2010, com possibilidade de prorrogação, se for necessário.



3        BIBLIOGRAFIA



3.1  BIBLIOGRAFIA – CORPUS



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[1] Na época defendi a dissertação intitulada Artur Arão: no intermédio da ficcionalidade e da autobiografia, na qual, entre outros aspectos, fiz o levantamento de uma série de requisitos ideológicos e formais para a efetivação de uma produção dita autobiográfica.
[2] Em função das muitas questões teóricas que ficaram pendentes, propus-me a alargar a abrangência de minhas pesquisas relativas ao tema. Desse modo, minha tese de doutoramento, Boitempo: a poesia autobiográfica de Drummond, igualmente na área de Literatura Brasileira, pela mesma Universidade Federal do Rio Grande do Sul, continua na mesma linha de pesquisa.
[3] Estas publicações estão arroladas na bibliografia constante deste projeto.
[4] CANDIDO, Antonio. Ficção e confissão – ensaios sobre Graciliano Ramos. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992. p.69.
[5] BANDEIRA, Manuel. Itinerário de Pasárgada. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
[6] MENDES, Murilo. A idade do serrote. In.: Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
[7] MEYER, Augusto. Segredos da infância / No tempo da flor. Porto Alegre: IEL / Ed. Da UFRGS, 1996.
[8] Objeto de investigação em meu doutoramento, conforme explicitado no item 1.1 Antecedentes.

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