sábado, 11 de fevereiro de 2012

poemas de Drummond em Boitempo


(para ler acompanhando o texto sobre drummond e autobiografia)

Poemas de Carlos Drummond de Andrade:

            Aquele córrego
Tão alegre este riacho.
Riacho? Gota d’água em tacho
Nem necessita pinguela
Para chegar à outra margem.
Um salto: salto a corrente.
É ribeirão de presépio,
É mar de quem nunca viu
O mar, nem prevê o mar. 

Tão festeiro, tão brincante
De lambaris rabeando
Na transparência da linfa.
Tão espelho, tão pedrinhas
De luz chispante em arestas.
Que nome ele tem? Não tem
Nome nenhum, tão miudinho. 

Ele é. Pois é, qual riacho
Qual nada. Ele é mesmo corgo
Ou nem isso. É meu desejo
De água que não me afogue
E onde eu veja minha imagem
Me descobrindo, indagando:
Que menino é esse aí? 

Que menino é este aqui?
Não sei como responder.
A agüinha treme, trotina
Sob o calhau atirado
Por meu irmão. Ou por mim?
Melhor é deixar o corgo
Brincar de ser rio e ir
Passeando lambaris. 


            Intimação 
- você deve calar urgentemente
As lembranças bobocas de menino.
- impossível. Eu conto o meu presente
Com volúpia voltei a ser menino

O pequeno cofre de ferro
(...)
Não fui eu ou fui eu?
Quem sabe mais de mim do que meu dentro?

E meu dentro se cala
Omite seu obscuro julgamento
Deixando-me na dúvida
Dos crimes praticados por meu fora 

Casa e conduta
(...)
Sou um ou outro
Móbil caráter
Conforme a luz
Que me percorre
Ou se reduz
(...)
Serei os dois
No exato instante
Em que abro a porta,
Ainda hesitantes
A porta e eu?

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