(para ler acompanhando o texto sobre drummond e autobiografia)
Poemas de Carlos Drummond de Andrade:
Aquele
córrego
Tão alegre este
riacho.
Riacho? Gota d’água
em tacho
Nem necessita
pinguela
Para chegar à outra
margem.
Um salto: salto a
corrente.
É ribeirão de
presépio,
É mar de quem nunca
viu
O mar, nem prevê o mar.
Tão festeiro, tão brincante
De lambaris rabeando
Na transparência da
linfa.
Tão espelho, tão
pedrinhas
De luz chispante em
arestas.
Que nome ele tem? Não
tem
Nome nenhum, tão
miudinho.
Ele é. Pois é, qual
riacho
Qual nada. Ele é
mesmo corgo
Ou nem isso. É meu
desejo
De água que não me
afogue
E onde eu veja minha
imagem
Me descobrindo,
indagando:
Que menino é esse aí?
Que menino é este
aqui?
Não sei como
responder.
A agüinha treme,
trotina
Sob o calhau atirado
Por meu irmão. Ou por
mim?
Melhor é deixar o
corgo
Brincar de ser rio e
ir
Passeando lambaris.
Intimação
- você deve calar
urgentemente
As lembranças bobocas
de menino.
- impossível. Eu
conto o meu presente
Com volúpia voltei a
ser menino
O
pequeno cofre de ferro
(...)
Não fui eu ou fui eu?
Quem sabe mais de mim do que
meu dentro?
E meu dentro se cala
Omite seu obscuro julgamento
Deixando-me na dúvida
Dos crimes praticados por
meu fora
Casa
e conduta
(...)
Sou
um ou outro
Móbil
caráter
Conforme
a luz
Que
me percorre
Ou
se reduz
(...)
Serei
os dois
No
exato instante
Em
que abro a porta,
Ainda
hesitantes
A
porta e eu?
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